Cottagecore e a esperança de recomeçar baseando-se no passado - Análise do Cottagecore

Parte 1 da série: O que movimentos estéticos da internet nos dizem sobre os recomeços da nossa sociedade?

Por Maria Eduarda Ribeiro Cavalcanti

Com a ascensão das redes sociais e sua popularidade entre os jovens é comum ver movimentos culturais e estéticos surgirem e serem a “trend” do momento. Para os mais velhos temos os movimentos das “sad girls” em 2014/2016, baseado na rede social Tumblr e inspirados em artistas indies da época como Lana Del Rey, Arctic Monkeys, Melanie Martinez, Troye Silvan e o estilo consistia em saias pretas e meião para meninas e jaquetas surradas e o consumo precoce de cigarro para meninos. Mais antigo ainda temos os emos nos anos 2000, com os cortes de cabelo cheios de gel e que cobriam os olhos, conversas até tarde no MSN com Paramore e Bring Me The Horizon na trilha sonora.

Com o TikTok e Pinterest, uma diversidade ainda maior de movimentos surgiu, a exemplo de: E-girls, soft boys, indie kids e por aí em diante. Mas com a vida em tempos de pandemia, 2 movimentos se destacam: Cottagecore e Minimalista.

Caso você ainda não saiba, não se preocupe pois eu trago um pequeno resumo, Cottagecore é um movimento baseado na natureza. Basta colocar no “ #cottagecore” no TikTok ou no Instagram que você encontrará fotos de pessoas em cabanas na natureza, com vestidos soltos brancos, fazendo piqueniques, colhendo frutas e fazendo tortas e pães. 

As fotos e vídeos passam uma sensação de calmaria e beiram a perfeição, como se aquelas pessoas tivessem saído diretamente de algum tipo de livro de época. E elas até agem como se vivessem no passado, preparando comidas de forma orgânica, usando roupas do passado, e se afastando das redes sociais ( mas não tanto assim, considerando que eles são usuários ávidos das redes sociais que documentam suas vidas como pessoas que se consideram cottagecore).

Porém em uma análise mais profunda, Cottagecore é um movimento que surgiu no fim de 2019 e que ganhou popularidade no começo de 2020 como forma de escapismo, onde a necessidade de distanciamento da sociedade e o foco em espaços rurais e na conexão espiritual com a natureza se encaixa perfeitamente com a vida na pandemia, onde encontramos o fim da vida social e aglomeração e da cultura da vida com ritmo rápido e urbano, a ideia de viver em que cidades que nunca dormem.

Não é a primeira vez que movimentos assim são vistos. Temos Marie Antoinette no século XVIII usando roupas simples ( que se chamavam chemise à la reine) e construindo seu próprio chalé no meio do seu castelo, esse tipo de vida foi profundamente inspirada pelos ideais de Rousseau, que defendiam que o estado natural do ser humano era longe da civilização e da tecnologia, uma vida na natureza. No século XIX, tivemos a doutrina do transcendentalismo, que buscava a reconexão com a natureza e era um movimento que ia contra a revolução industrial da época. Temos os hippies, fugindo da globalização avançada, das metrópoles crescentes e do consumismo americano.

Mais do que a sensação de pertencimento, o cottagecore vem como forma de catarse, de recomeço, na vida do jovem no século XXI. A pandemia nos obrigou a desacelerar todos os nossos planos, e através delas todos nós percebemos o quão frágil é a vida, o quão sem sentido são planos, como a cultura da agitação e do trabalho constante podem não significar nada. É fácil sentir-se desanimado com essas afirmações. Como forma de cura e escapismo, a natureza traz as respostas para alguns. No meio de tanta incerteza oferecida no ano que se passou, na natureza temos um refúgio, um conforto baseado no passado, pelo menos uma garantia.

Não somente uma forma de conforto na incerteza da pandemia, mas uma ode também a vida despreocupada, como já mencionado antes. O ritmo efervescente da cidade grande, a pressão da escola, de familiares, do mercado de trabalho sobre os jovens faz com que esses sintam uma necessidade de parar e lembrar do que realmente importa, uma vida mais devagar baseada nos pequenos prazeres da vida. O cottage core é uma espécie de detox da vida social urbana que nos faz questionar “ Não seríamos todos um pouco mais feliz, se tivéssemos mais tempo livre?”, cottage core é a resposta dos jovens diante a uma sociedade em colapso.

Um pequeno movimento estético de TikTok, oferece uma ampla fonte de conforto e pertencimento, uma chance para começar em uma sociedade tão fragilizada pela pandemia. A pergunta é: com o fim da pandemia (em outros países) a importância do cottagecore e da natureza da nossa vida, continuará existindo? O impacto será o mesmo? Afinal, o nosso mundo é um urbanizado e é irreal que a maior parte da população vá para cenários rurais permanentemente. Então, o que virá em seguida?

A resposta está no movimento minimalista.

Parte 2 disponível clicando aqui.

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