Eu estou aqui, sentada na sua porta. A rua está quieta.
É um domingo de tarde. E é uma tarde extremamente quente, fora dos limites. Eu olho para a rua e consigo ver o asfalto se misturando ao calor e criando miragens. A sua mochila levemente jogada na calçada enquanto eu sento no meio-fio, no mesmo momento em que eu enrolo meus dedos nos rasgões da calça e a desfio ainda mais. Eu jogo os fiapos na rua.
Agora eu estou pensando em como você sempre reclama comigo quando eu faço isso, você diz que calças muito rasgadas são feias e que eu só aumento ainda mais os buracos fazendo isso. Mas mesmo assim você ainda pega os fios que caem e enrola no seu dedo até eles ficarem roxos e eu entro em pânico, naquele momento somos como duas crianças brincando, distraídas na aula.
Eu tento me entreter para fazer o tempo passar mais rápido, porém na frente da sua casa, tudo que eu consigo pensar é em você.
Nós somos eternamente pertencentes ao cotidiano, viciados na rotina. Eu conheço todos os seus sinais e desenho seus traços de olhos fechados, consigo reconhecer seu cheiro a quilômetros de distância e sinto a macia textura do seu cabelo entre meus dedos até mesmo quando eu não estou passando minha mão na sua cabeça e os meus finos dedos não desfilam entre seus fios.
Todos os nossos dias juntos são perfeitamente coreografados e eu decorei cada minuto e mesmo assim todo dia ainda é um dia novo, e eu nunca me canso de você. Acho que só quando conhecemos cem por cento uma pessoa podemos dizer que a amamos.
E eu te amo tanto.
Mas é por te conhecer tanto, por te amar tanto, que eu sei que você iria desdenhar dos meus sentimentos.
A verdade é que eu não consigo mais me desdobrar e me diminuir para caber na pequena caixa que são seus dias corriqueiros, essa dança já me cansou e seus pequenos jogos já me confundiram demais. Eu necessito de algo diferente e eu já não posso mais segurar tudo que há em mim, tudo que eu posso transformar e dar.
Você sempre foi bom demais para mim. E eu sempre fui muito boa em fugir.
Desde criança sempre foi assim, eu subia no palco para me apresentar, congelava e fugia na hora. Os meus pais se entreolhavam confusos e a professora me dava uma bronca, mas você simplesmente me dava uma olhar de empatia e naquele momento eu sentia que tinha sido acolhida, com você eu sempre achei conforto e essa é apenas umas das inúmeras razões a qual eu te amo. Eu sabia que mesmo se o mundo desmoronasse, tudo estaria certo, porque eu tinha você para me dar aquele olhar ressegurador e carinhoso e sabia também que nos seus braços, qualquer momento ruim se transformaria em um bom.
Mas o tempo é ouro e eu não posso perder mais dele. Preciso achar conforto em outros, quem sabe até mesmo no meu próprio olhar no espelho. Eu simplesmente preciso de mais.
Mas é tão difícil dizer isso para você, eu nem sei como começar. Por que você não pode me ler, como eu faço com você? Seria tão mais fácil. Talvez eu nem mesmo precisaria estar fugindo agora…
Eu estou olhando para o meu tênis, e no exato momento em que o Sol bate ao meu oeste e minha sombra está no seu máximo, eu decido que é o momento certo, agora é a hora de ir. Perdi a coragem de falar tudo na sua cara então pego um lápis e escrevo um bilhete e passo por debaixo da porta, rezando para que sua cachorra não rasgue o papel, apesar de saber que ela não irá, porque ela sempre foi um doce, puxou de você eu suponho.
Sentada no ônibus eu percebo que não tem mais volta, o sol se põe. Olho o relógio. É a hora que você está chegando em casa, eu já consigo enxergar a imagem.
Quando você chega em casa você pega o bilhete e lê:
“ Peguei sua mochila emprestada para uma viagem, depois eu devolvo. Beijos, até logo.”
Mas você me conhece. E você sabe que nunca lembro de devolver nada.
Por Maria Eduarda Ribeiro Cavalcanti
LINDO LINDO DUDA PERFEITO
ResponderExcluirobrigada wedlla beijooossss
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